quarta-feira, junho 22, 2005

A Discussão de Las Reinas ou um Mau Filme de Almodôvar

Mal criado. Mal educado. Mal humorado. Agressivo. Abusivo. Hiperbólico. Excessivo. Irritante. Possessivo. Dominador. Egoísta. Romântico. Sonhador. Obtuso. E muito mais. São adjectivos que me servem que nem uma luva e os assumo com um misto de orgulho, vaidade e vergonha. Um jantar de amigos. Uma boa refeição. Um bom vinho. Uma conversa sempre agradável. Nunca se sabe o porquê de se passar de um tema de conversa para outro. Nunca se sabe como se começa uma conversa. Nunca se sabe como termina e quando deve ser terminada. A hipérbole. A atitude. O dito. O tudo. O nada. O ser. O ser aí. O ser do ser aí. Filosofias. Que fica das palavras? A humana sapiência turva a mente iluminada de nós imortais. Pela luz do sol, raios lunares e afins, que nem sempre trazem benefícios. Talvez o apelo surja de sons inaudíveis para o ouvido humano, não da mente. Um desentendimento. Uma discussão. Há discussões e discussões. Sempre fui um rapaz de discussões. Normalmente as minhas discussões são troca de ideias. O que se passou foi o oposto. Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades. E quando duas bichas se zangam, pior ainda. O abuso. A dita discussão foi um claro abuso. Um abuso de confiança. Um abuso de palavras. Um abuso de exaltação. Quando alguém como eu, que abusa da confiança dos demais, pode querer que estes não o façam de igual modo? Todas as relações humanas têm que obrigatoriamente ter limites. A minha liberdade termina onde a do outro começa. Se esta premissa não é respeitada na maioria das vezes algo não está certo em termos educacionais. Há palavras que ao serem ditas de determinada maneira têm um impacto nefasto. Este impacto é tão mais nefasto quanto maior for o significado que se lhe dá. Falando agora de gestos e atitudes, ou de sentimentos. Há também certos gestos e atitudes que têm mais significado que as meras palavras proferidas. A minha exaltação começou devido ao sentimento que coloquei em determinado gesto ou acção. Considero que os olhos e o olhar revelam certas particularidades do que nos vai cá dentro. Os olhos são o espelho da alma. Foi devido, então, a determinado olhar, ao qual dei um certo sentimento, que a minha irritação teve início. Não gostei. Tenho esse direito. Decidi exprimir o que sentia. A forma de expressão não terá sida a mais conveniente. A carapuça serviu-me. Até perder a eventual razão foi um pequenino passo. Não foi despropositado ir buscar um assunto que supostamente nada tinha que ver com o que se discutia. Vinguei-me, quis vingar-me. Sou mesquinho, fui mesquinho. Os amigos são para as ocasiões. O óbvio foi conseguido? De todo. A discussão serviu para o espectáculo a que todos estavam a assistir. Aquela última subida ao palco foi desnecessária. Tal como há palavras ou expressões que considero abusivas. Também há toques corporais que considero abusivos. Até que ponto incorporo esta regra? Não a sigo simplesmente. Depois do filme espectáculo em três actos e da última subida ao palco, o backstage deve ter sido a parte mais interessante. Saí na altura certa, se tivesse saído uns minutos mais cedo teria sido melhor. O ser humano não se sabe auto controlar. Conclusões? Não devemos nunca guardar para nós aquilo que nos desagrada. Quer no momento do desagrado, quer mais tarde, deve ser discutido, ou pelo menos falado. E o primeiro filme terminou. Las Reinas voltam a encontrar-se nas duas próximas sequelas. Só esperemos que o segundo e o terceiro Almodôvar sejam de melhor qualidade. Cá estaremos tod@s para assistir e aplaudir.

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